Uma das virtudes do ser humano é a sua grande capacidade de adaptação às mudanças e novidades, seja em que área for da sua vida ou mesmo à sua volta na sociedade, no emprego ou na família. Mas como tudo, ou quase tudo na vida, também esta virtude pode adquirir uma faceta negativa e transformar-se num perigoso e fatal defeito.
Tal como nos descreve genialmente, e de um modo alegórico, o grande dramaturgo Ionesco na sua peça intitulada “O Rinoceronte”, a capacidade do homem para admitir primeiro, aceitar depois como normal e por fim aderir euforicamente a situações e atitudes reprováveis e escandalizantes à partida, deixa-nos perplexos e prenuncia o fim da nossa civilização.
Infelizmente, esta realidade parece ser intrínseca ao homem e reflecte-se na sua vivência espiritual, nomeadamente na igreja.
Surgem primeiro atitudes e situações no culto e no louvor que escandalizam e provocam uma reacção de repúdio generalizada da parte de crentes fiéis ao Senhor. No entanto, tais atitudes e situações que eram restritas a pequenos círculos, mais ou menos excêntricos, vão-se multiplicando e universalizando e, para espanto dos que permanecem lúcidos e firmes nas suas convicções, cada vez vai sendo menor a reacção de repúdio nas igrejas, até constatarmos uma total inversão da realidade, sendo agora uma minoria, por vezes ínfima, que ainda luta contra a decadência e degradação do culto e do louvor que devemos prestar a Deus.
A peça de Ionesco termina com o drama de um só homem que luta desesperadamente para não se deixar transformar em rinoceronte como todos os demais… parecendo impossível que o consiga! Ionesco será pessimista ou realista?
“Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lucas 18:8)
Pastor Celestino Torres de Oliveira
Comentários
Enviar um comentário
Agradecemos desde já o seu comentário e pedimos que se identifique.
Gratos